Ferramentas e suas utilidades

“Tecnologia da informação”: Esta palavra já soou melhor. Hoje temos mais funções à disposição do que podemos consumir, ingerir, digerir. Deixamos nos envolver em uma complexidade desnecessária.

 

O grande problema da tecnologia é a dependência da energia elétrica. Tecnologia gera ferramentas. Estas ferramentas facilitam a execução de uma tarefa, mas de outro lado precisam de energia. Não tem milagre. Mesmo a tecnologia da informação, leve e solta, que nem parece mais tecnologia, parece que faz parte de nós, integrada, aceita (queira ou não queira), consome muita energia.

Pouco tempo atrás vi um cartaz de propaganda para impressoras. A foto mostrava uma mulher no supermercado mexendo no celular com os seguintes dizeres embaixo: “Quando você chega em casa, a receita já está impressa. Você pode mandar via eCloud.”

Levar a sério?

Uma dona de casa que manda a receita do celular para a impressora em casa. Por que ela faz isto? Para economizar tempo? Para se divertir? Para assustar o cachorro que ficou em casa? Ou ela nem faz isto, só o publicitário que achou que ela gostaria de fazer? Estamos cercados de milhares de produtos e funções da tecnologia, com os seus apelos para facilitar o nosso dia a dia. E com isto aumenta a quantidade de decisões a tomar que, sem perceber, gastam muita energia.

Neste exemplo da dona de casa temos um celular (aparelho indispensável do ser moderno) como emissor, temos a impressora (aparelho grande que custou muita energia para ser produzido) como receptor e temos a computação em nuvem (eCloud, iCloud, xCloud etc.), uma novidade no vocabulário da tecnologia. A instrução, em nosso caso “imprimir receita”, é transmitida do celular para um servidor (computador dentro de uma rede) e do servidor para a impressora em casa. Mas cadê a nuvem? O servidor é agora chamado de nuvem. Esta é a novidade. Uma palavra bonita, leve e limpa. Neste caso o publicitário trabalhou bem!

Wolke Cloud Nuvem

“Computação em nuvem”, que nada tem a ver com nuvem, quer dizer: usar espaço de armazenamento de dados de terceiros, os quais posso acessar via uma rede,  normalmente a internet. São computadores grandes que gastam energia. Sim, energia. Precisam de manutenção, precisam de segurança. São também chamados  “servidores”.

Este é o desafio para empresas de tecnologia: nos equipar com brinquedos (gadgets), passa-tempos e ‘ganha-tempos’ para nos fazer esquecer das montanhas de celulares usados, baterias, estragando o solo, computadores refrigerados, que gastam energia, linhas de produção que produzem o que não precisamos. Lixo. Muito lixo!

Falamos até agora sobre hardware (máquinas). Eis dois acontecimentos que chamaram a atenção envolvendo software (código que pode ser executado por máquinas):

Computadores comunicam entre si: existem transações nas bolsas que são totalmente feitas por sistemas de computadores, os quais interagem, analisando dados com alta velocidade e quantidade e “tomam decisões” através de algoritmos (regras que devem ser executadas em certa circunstância). Entre muitas funções, como fazer previsões, eles tentam se aproveitar de mínimas oscilações dos valores e assim fazer lucros sem risco. “High Frequency Trading”! O problema é que podem acontecer erros, redes serem alimentadas com dados errados, gerando um “curto-circuito” como em maio de 2010. Quando o próximo bug (erro de programação) trará pânico às bolsas?

Sempre é possível simplificar uma tarefa […] Mas às vezes, com esta mudança, outras tarefas se tornam mais complexas.

Outro episódio que chamou a atenção em 2011 foi o Egypt’s Internet shutdown. O país simplesmente se desligou da Internet. E nem precisou ser cortado um cabo ou desligado um servidor. A alteração de um simples protocolo (neste caso o BGP – Border Gateway Protocol), que define como dados são transmitidos pela Internet e entre países, resolveu. Detalhe, voltando ao assunto bolsa: o governo deixou somente um servidor em funcionamento: o que liga a bolsa do Egito com a Internet. Como são importantes as bolsas!

Na verdade, queria dar destaque neste artigo para outra ferramenta: o SCRUM. Tive contato com este método de trabalho, que reúne regras para a gestão de projetos, especialmente para projetos de desenvolvimento de software. Se você quer desenvolver um software, aplicativo ou produto, o SCRUM pode ajudar a estruturar o dia a dia da sua equipe, entre 7 e 12 pessoas, e organizar o seu projeto, mas não garante sucesso. Vejo a qualidade do SCRUM nos vários rituais ligados à motivação da equipe: comunicação intensiva, equipes sem hierarquias, equipe responsável pelas metas estabelecidas. Para saber mais: faça uma pesquisa pela palavra “SCRUM”.

Dois pontos positivos para terminar, relacionados a gestão de projetos. Para se lembrar que ferramentas são importantes, mas nem tanto:

  • O fator mais importante para o sucesso de um projeto é a equipe, o conjunto de pessoas que tentam atingir os objetivos.
  • Antes de mais nada, deve-se perguntar se o projeto resolve o problema em questão. Sempre é possível simplificar uma tarefa, um Human Task, diminuir espaço de armazenamento e tempo de execução. Mas às vezes, com esta mudança, outras tarefas se tornam mais complexas.
Publicado no SWISSCAM Magazine, Edição 67 (Páginas 28,29), dezembro 2011. Versão original, em português e inglês, disponível para Download em formato PDF (100kB):02239_artigo.pdf